terça-feira, 29 de abril de 2008

Botão Barbearia[0.389/2008]
Escritas, leituras e reescritas
Escrita
Recebi da Dom Quixote a carta com o recibo dos direitos de autor do ano passado. Coisa pouca neste universo curto de pouca coisa, que é Portugal. Mas foi algo que me remeteu uma vez mais para a releitura de uma comunicação feita num encontro internacional de Ciências da Comunicação, da autoria de Luís Filipe de Bragança Teixeira, com o título Figurações Maquínicas da Escrita I.O: Em torno da palavra digital e da escrita tipográfica.

Em determinado passo diz o autor que temos de repensar, com o aparecimento do conceito de biblioteca electrónica, as noções jurídicas (propriedade literária, direitos de autor e copyright); as noções regulamentares (depósito legal e conceito de bibliotecas nacionais); e as noções processuais (catalogação, classificação e discrição bibliográfica).

Não é só por uma questão do suporte onde reside a escrita pois, ao contrário do livro, o ecrã (substituto do codex) permite organizar, estruturar e alterar a consulta, o que transforma o objecto inicialmente criado.

Se um texto não só não é o que lemos nele, também não é só o que alguém nele escreveu. Um texto é uma série de produtos cruzados numa rede matricial – linguística, tecnológica e histórica – perceptível de forma diversa por quem o lê e que o interpreta com a aplicação dos conceitos e as técnicas que detém. Desta forma, poderemos dizer que muitos textos deixam de ter autor, no sentido tradicional do termo.

Os direitos perdem-se? Não sei, mas sei que no publicar electrónico muita da nossa inventiva aparece transcrita no multiplicar de outros autores que agarram a criatividade terceira para reconstruir, com outras letras e noutra estrutura, coisas que foram criadas para serem originais.
LNT
Rastos:
USB Link-> Figur@ções maquínicas da escrita 2.0 - Luís Filipe de Bragança Teixeira
-> Escritas mutantes - Luís Filipe de Bragança Teixeira
-> CECL

5 comentários:

WR disse...

O meu amigo é um felizardo e não sabe disso. Embora muito pouco, imagino, recebeu direitos de autor. Sabe o meu amigo que 99,9% dos académicos que publicam coisas que, com boa vontade, umas três ou quatro centenas de almas vão ler, não só não recebem direitos de autor como têm de pagar ao editor para serem publicados, sendo que a não publicação é fatal para o seu futuro profissional? Sabia disso?

Tome lá um abraço e sinta-se feliz,

WR

Luís Novaes Tito disse...

Mas o vizinho também deve saber que há por aí alguns professores que publicam trabalhos dos seus alunos, têm editoras próprias ou amigas e abichanam uma data de cacaus, não sabe?

Luís Novaes Tito disse...

Quanto à coisa recebida. Imaginando que um ano tem 360 dias e que todos os dias convém comer qualquer coisita, imaginando também que os proventos para a bucha eram os tais direitos de autor, estima-se que ao fim de quinze dias, desde que houvesse água gratuita para beber entretanto, a certidão de óbito estava passada.

Anónimo disse...

Caro vizinho,

Quanto ao primeiro assunto: sei sim, são os 0,1%. Quanto ao segundo, sei sim, tanto assim que também eu já recebi o pecúlio de direitos de autor de um livro. Sabe o que fiz? Era tamanha a remuneração que resolvi não receber. Disse que o dessem a uma associação da qual sou membro fundador.

E viva o dia do trabalhador!

Sempre a considerar este estabelecimento,

WR

Fernando Vasconcelos disse...

Pois eu também escrevi um livro e recebi os direitos de autor. Suficiente para pagar um Jantar ... Mas não me queixo disso. Não escrevi com esse intuito.

Penso no entanto que o assunto original dos direitos de autor no mundo digital era bem mais interessante. Por acaso não concordo de todo com a visão de que o digital muda radicalmente os conceitos. Torna, é verdade, muito mais fácil o plágio, democratiza o acesso (editar é mais barato) mas obviamente reduz ainda mais a possibilidade de derivar receita autoral quanto mais não seja pelo aumento da oferta ...