segunda-feira, 8 de julho de 2013

7º dia

Morto-vivoSe as contas não se enganam, deveríamos estar hoje a celebrar a Missa de sétimo dia de um defunto que se encontra na morgue a aguardar decisão de cremação ou de empalhamento.

Para empatar, o médico legista-chefe anda às voltas com o fígado e outras miudezas que retirou no decurso da autópsia do cadáver para estudar a compatibilidade consensual que demonstre haver hipótese de reengenharia que, segundo o manual de Mary Shelley, viabilize a reactivação de alguns sinais vitais.

O doloroso acontecimento e a forma como se arrastam os preparativos fúnebres estão a deixar em elevado estado de ansiedade toda a comunidade indígena, incluindo os herdeiros, os deserdados, os gatos-pingados e os coveiros que, pelo menos, exigem que os restos mortais abandonem a morgue e sejam expostos como corpo presente para receberem as lágrimas ou os aplausos que as comunidades julguem ser-lhe devidos.
LNT
[0.219/2013]

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