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domingo, 28 de março de 2010

Contraditório: Ferro ferrugem

ModelosEstimado Sr. Amigo Barbeiro Luís,

deste maravilhoso cantinho da Europa, não podia deixar de responder ao resumo publicado da nossa ultima conversa que ocorreu enquanto você me cortava o cabelo e a sua colaboradora querida me tratava dos pés.

Sendo um crente (não na natureza humana) mas naqueles que positivamente tentam participar com os seus pares na construção de algo positivo para a nossa sociedade e ter verificado que o sua estimada cliente C.C. comentou o seu resumo, senti na minha obrigação de sair do anonimato, para clarificar e desafiá-lo e à sua clientela para um debate ideológico do qual temos muitas saudades.

Gostaria de partilhar consigo e com a sua clientela a minha relação privilegiada com os mortos, para não nos esquecermos deles, de modo a incorporar as suas experiências na nossa capacidade de aprendizagem (essa aprendizagem não tem sido famosa).

É evidente que não será neste comentário que conseguiremos partilhar toda a nossa história (vivos e mortos) mas gostaria que ficasse claro a diferença entre os que são crentes, os que constroem, empreendedores, positivos, que trabalham por objectivos (caso não tenham salário), em suma, os que põem os interesses colectivos antes dos interesses individuais, que tem consciência da sua utilidade na sociedade e na construção da riqueza (caso contrário não sobrevivem), dos que são desconfiados, destruidores, negativistas que põem os interesses individuais antes dos interesses colectivos, que têm o salário garantido (mesmo que reduzido, faça chuva ou sol) e que não têm consciência que a sua inutilidade não contribui para o bem colectivo, nem para a criação de riqueza (bem pelo contrário).

Concordo com a sua estimada cliente C.C. Somos um povo fora de série, enquadrados em qualquer nível hierárquico, em qualquer desafio em qualquer parte do mundo somos os melhores, mas infelizmente neste paraíso, não.

Em conclusão, e sendo este (assim o espero) um inicio de uma reflexão construtiva, positiva, de acção local para que este maravilhoso nosso país (sim, já sou português) se torne um atractivo para os nossos filhos.

Deixemos as pedras, e unamo-nos em torno de algo maior que nos dê uma sensação de utilidade (os nossos filhos irão agradecer). Temos um país maravilhoso, de pessoas extremamente criativas, um lugar único para se viver na Europa; porque não transformá-lo num paraíso?

Terei todo prazer, da próxima vez que for cortar o cabelo e arranjar os pés, de debater convosco os ensinamentos dos mortos e da experiência do passado das nossas sociedades, para que possamos não ser aliciados a cometer erros (os de sempre) no presente e no futuro (os ciclos repetem-se) apenas por questões de vaidade pessoal ou interesses de sobrevivência individual ou corporativista assentes no mais genuíno que a natureza humana têm: a inveja.

Um grande abraço para si e para a suas colaboradoras principalmente para a Bunny di Paços de que tanto iremos ouvir falar nos próximos tempos.

O amigo de Buda
editado por LNT a partir da caixa dos comentários
[0.122/2010]

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ferro ferrugem

SputnikTenho um amigo oriundo da cortina de ferro que gosta de falar a língua dos mortos. Se falamos de economia cita mil vezes Keynes, Hayec, Friedman ou Smith, se falamos de outras gestões saca de modelos e ciclos, finlandeses, de Silicon Valley e outros e, se falamos de ciências ocultas, evoca o barbudo ou a terra do Donald Duck.

Mas não só disserta, como demonstra e teima. Teima que os mortos são melhores do que os vivos porque consegue ler os mortos e nos vivos, mesmo quando os lê, só encontra menções aos mortos.

Esse meu amigo que nasceu na cortina de ferro acredita que há Europas dentro da União Europeia, umas a norte, protestantes e trabalhadoras e outras a sul, católicas e preguiçosas que só por acidente não são África porque Deus teve um lapso quando atirou com a água do Mediterrâneo um pouco mais abaixo do que deveria.

Nós, os barbeiros teólogos, sabemos que este conceito de erro é a própria negação de Deus, Entidade não susceptível de o cometer. Se as águas nos separam é porque há algo de inatingível que assim o faz ser, alguma coisa sábia que só cogitaremos quando formos divinos.

Esse meu amigo, nado e criado entre a cortina de ferro, os Champs-Élysées e Lisboa, diz que o Duna é azul, que la Seine é verde e que o Tejo só mistura as duas cores porque tem estuário no Bugio, entre a Caparica e Oeiras, em Atlântico aberto, ao contrário de la Seine que desagua na Mancha e do Duna da sua terra que deixa de ser rio quando se escapa para a Croácia.

Ele crê, esse meu amigo que nasceu para lá da cortina de ferro, entre Buda e Peste, que os mortos que lhe falam e de quem ele fala e sobre quem estuda, ainda estão vivos.

Mesmo depois do Globo se ter atrasado na rotação, de Bernard Madoff ter sido preso e de Obama ter ensaiado o SNS americano.
LNT
[0.117/2010]