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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vidrinhos

Carlos AlonsoTodos temos os nossos dias vidrinhos. Parece que a coisa está por um fio e que esse fio é tão ténue que pode partir sem qualquer aviso. Ao longo de uma vida já devo ter tido alguns desses dias, não muitos que foi sempre preciso andar para a frente, para o lado e até para trás, sem haver muito tempo para vitrais a não ser os de contemplação entre uma hóstia e outra (os castelhanos escrevem de forma diferente) à procura de soluções.

Mas hoje sinto-me assim. Por um fio, com o fio torcido, retorcido, esticado e moído.

Não sei se foi da conta do dentista e do atraso provocado para chegar ao trabalho, se foi por ter acordado vivo, se foi por causa do sabonete do banho estar quase transparente ou por me ter sido diagnosticada uma reforma lá para os sessenta e sete anos, coisa que estilhaça qualquer cristal.
LNT
[0.030/2011]

sábado, 24 de outubro de 2009

Da alma

Há coisas supremas no ser humano e uma delas é a capacidade, mesmo que aprendida, de saber tirar dum teclado mais que o martelar da vida. Uma frustração minha, coisa de barbeiro, de quem nem castanholas sabe castanholar.

Das expulsões da aula de canto coral até aos fins de dia em fuga na sala maior da Gulbenkian a gozar as cadernetas de temporada que Ismael Silva Santos me passava no meio da pasta do despacho, vai a inabilidade para fazer acorde e o prazer de sentir os sons a sacar de mim uma alma que na normalidade esqueço ter.

Só por isso, e relembrando tantos outros saraus, já valeu a pena ser português para ter uma ministra pianista, independentemente de toda a gestão que ela poderá fazer.

Há muitas simbologias de que gosto mas esta foi das que mais me calou. Podia ter sido um actor, um palhaço, um qualquer escritor.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve, na dor lida sentem bem, não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda gira, a entreter a razão, esse comboio de corda que se chama coração.
LNT acompanhado ao piano por Gabriela Canavilhas, na pena de Fernando Pessoa
[0.679/2009]