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terça-feira, 27 de março de 2012

PREC – Processo revolucionário de empobrecimento em curso

GrelhaSoares dá o mote: O que se está a passar em Portugal não é uma reforma, mas sim a contra-reforma. O que se está a passar não é uma revolução silenciosa, mas sim uma contra-revolução.
Veremos até quando ela se manterá silenciosa.

Uma das mágoas maiores do último século português foi o processo de descolonização. Primeiro, por não ter sido verdadeiramente um processo uma vez que nunca foi planeado pelo sucessor de Oliveira Salazar que, não sendo um tacanho como o ditador que o antecedeu, deveria ter preparado o inevitável e, segundo, porque nunca se acautelaram os interesses daqueles que tiveram de retornar com a roupa na pele e deixar para trás vidas de trabalho.

A violência dos factos e a violentação dos agentes deste não-processo tiveram sequelas graves, também elas nunca tratadas por equipas multidisciplinares. Sempre se preferiu fazer crer que a integração desses nacionais foi exemplar e se fez por osmose.

Quem viveu as situações, retornados ou não, lembra-se do caos.

Os adultos retornados fizeram pela vida, foram subsidiados, emigraram, ou safaram-se como puderam e como o engenho e o “desenrasca português” lhes permitiu.

Hoje estão mortos ou para lá caminham. Os mais novos e as segundas gerações chegaram agora ao poder. Sem que nunca tenham sido objecto de acompanhamento trazem consigo a mágoa que não lhes foi atenuada, perdem-se nas imagens das savanas, na irrealidade que a sua infância e juventude retiveram e possivelmente nas recordações daquilo que nunca tiveram mas que sempre lhes disserem ter perdido.

Talvez esteja por aí, na espoliação, o ressentimento e a inconsciente vontade do ajuste de contas.

Talvez residam nessas estórias mal contadas e no verdadeiro assunto-tabu da nossa História recente, a vontade da contra-reforma e da contra-revolução. O retorno ao empobrecimento, o ajuste à miséria e à falta de ambição a que chamam “adaptação à realidade” e “a viver à medida dos seus meios” (sem que lhes permitam novos meios) como se a mediocridade e a infelicidade fossem o desígnio nacional. Este desamor, esta desesperança, esta não-ambição, podem muito bem ser o resultado de nunca se ter encarado cientificamente a necessidade de acompanhamento e da cura de mazelas de uma geração retornada e nunca verdadeiramente integrada. E como se todos nós, uns e outros, tivessemos de voltar a passar por tudo.
LNT
[0.180/2012]

domingo, 6 de junho de 2010

A espuma dos dias

Guerra ColonialOntem quando vinha para casa ouvi no rádio um locutor anunciar, com grande frenesim, que os heróis-nacionais tinham acabado de sair de um lado qualquer e se dirigiam para o aeroporto onde rumariam a terras de África para cumprir os desígnios da Nação.

Lembrei-me de imediato de outros heróis a embarcar, independentemente da justiça da guerra para onde partiam, primeiro na Rocha de Conde d’Óbidos e depois na Portela, a caminho dos desígnios nacionais de então. Lembrei-me de que muitos deles não voltaram ou retornaram em caixas, de outros que ainda hoje sofrem de mazelas físicas e morais e de que à partida, em vez de cornetas barulhentas, tinham pais, mulheres e filhos com lágrimas nos olhos e lenços brancos nas mãos.

Comparo a heroicidade de quem o fazia porque acreditava ou a isso era obrigado, em nome de uma Nação, em sacrifício de um futuro, em troca de um miserável pré e da farda militar e as fardas larócas com que estes novos heróis-milionários se enfeitam para um sucesso que se lhes deseja, mas que não lhes trará consequências em caso de falhanço.

E irrito-me por ter de ouvir a baboseira de um qualquer locutor apelar à histeria e chamar, num posto de rádio, heróis-nacionais a um bando de artistas-mercenários.
LNT
[0.189/2010]